O artigo de José Eustáquio Romão nos provoca uma reflexão pertinente sobre as perspectivas da educação freiriana no panorama do mundo pós-moderno. O ponto de vista dos oprimidos sobre as escolhas pedagógicas para o enfrentamento dos problemas inerentes ao mundo globalizado é sugerido como possibilidade ao olhar pessimista de interpretação da realidade como processo fatalista.
A leitura de mundo de Paulo Freire, apresentado na sua pedagogia do inacabamento dialético-dialógico-crítica, pode ser a resposta que a pós-modernidade necessita para resgatar a Humanidade do caos do capitalismo agonizante?
O autor disponibilizar as observações de Immanuel Wallerstein presentes no seu conceito de “ sistema de mundo ” onde delineia uma preocupação atenciosa com os equívocos das utopias que, também geram desilusões (WALLERSTEIN, 2003 apud ROMÃO, 2005). Uma contribuição valiosa contra os chamados “vendedores de ilusões” que surrupiam a confiança cotidiano de muitos que ficam com as promessas vãs de uma paraíso cada vez mais distante.
Entretanto, esta vigília teórica dedicada pode fortalecer determinismos autoritários, congelando probabilidades mais comprometidas com a capacidade da Humanidade de se superar, de se refazer nessa sua epopéia civilizatória; e ao mesmo tempo esconder controles sociais que buscam mante r o status quo da sociedade. Seu relevante trabalho incide na exposição dos contrastes da pós-modernidade que engoliu as grandes narrativas em prol de um esgotamento do sistema mundial moderno” (WALLERSTEIN, 2003 apud ROMÃO, 2005) como fim do capitalismo e não como uma nova adaptação dele à contemporaneidade.
É muito arriscado atribuir as utopias muitas das injustiças cometidas de interpretação da realidade. De acordo com Romão:
Além de desqualificar as utopias, tornando-as apenas como ilusões ou delírios de visionários, Wallerstein debita em sua contam muitas das injustiças que, certamente, poderiam ser provocadas por outros fatores, tais como por exemplo as ortodoxias. (ROMÃO, 2005, p. 10)
A inquietação diante da desesperança e desencanto que vêm sendo observados na produção científica e no trabalho de inúmeros pensadores acende um debate de como contrapor as expectativas sombrias de um mundo apocalíptico com a construção de uma relação humanizada de sociedade. A pedagogia de Paulo Freire, aproxima a confiança no potencial restaurador da Humanidade por revelar seus significados de inconclusão e incompletude, descritos por Romão no seu artigo.
Por isso, como seres insatisfeitos com sua própria incompletude, inconclusão e inacabamento, esperam a realização das próprias completude, conclusão e acabamento incessantemente. E como esta espera é ativa, pois não é espera no sentido estrito, mas esperança (ROMÃO, 2005, p. 15).
Para resistir ao estreitamento dos horizontes desenhados pelo neoliberalismo globalizante na sua pressurosa corrida pelo lucro, José Eustáquio Romão propõe a metapedagogia freiriana engajada com a multiculturalidade erguida pelo diversos atores social que compõem a cena social da educação, valorizando a construção coletiva do saber. Uma pedagogia que vá além do empacotamento dos currículos escolares e potencialize as identidades culturais dos estudantes e suas aspirações pessoais e coletivas (ROMÃO,2005).
Para isto se faz necessário a participação de todos no processo de ensino-aprendizagem, viabilizando a multiculturalidade como exigência do século XXI, enlarguecendo a participação das maiorias (tornadas minorias), transformando-os em sujeitos sociais enérgicos no aperfeiçoamento de sua história.
Um artigo científico envolvente e corajoso, que colaciona um intelectual do terceiro mundo com um do primeiro mundo, sem desqualificá-los na sua produção mas aludindo a uma (re) leitura do que a pedagogia freiriana pode contribuir para a pós-modernidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ROMÃO, José Eustáquio. Dilemas e desafios da educação contemporânea:uma (re) leitura de Paulo freire no cenário de Immanuel Wallerstein.Revista Portuguesa de Educação, CIEd–Universidade do Minho, 2005, 18(1), pp 07-21.