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jul 10 2012

ENSAIO SOBRE AS IDÉIAS (DO SEU USO MARXISTA)

                      Para uns, as idéias não passam de abstrações sem importância. No entanto, para outros elas representam uma necessidade de interpretação da realidade. Por vezes, confundindo-se com ela. Com isso, temos os que afirmam que tudo pode ser explicado através da razão.

                 Ao longo dos tempos, as idéias foram os óculos da humanidade, conduzindo olhares interrogativos em busca de compreensões. Assim, a filosofia fomentou debates incansáveis, editando teses reveladoras que encantaram multidões, e elevaram a capacidade cognitiva dos seres humanos diante das suas incertezas.

                 No entanto, ainda pesa nos ombros do mundo a inquietação da sociedade humana ante sua realidade. Afinal, o que é verdade?; o que é real?; Quem somos nós? Diante disso, não há consenso.  Isto é, a pergunta que é de todos não tem uma só réplica. Ou seja, as idéias não se bastam.

                 Acrescentando-se a isso, encontramos publicações filosóficas que enunciam a impossibilidade das idéias de responderem a tais indagações.  Deste modo, Immanuel Kant na “Crítica da Razão Pura” diz que o real, o qual ele se refere como “a coisa em si”, é incognoscível, portanto não pode ser descrito. E mais:

                 Mediante simples conceitos não posso, seguramente, sem alguma coisa de interior, imaginar nada externo, justamente pelo fato de que conceitos de relação supõem sempre coisas supostamente dadas e, sem estas, não são possíveis. Mas como na intuição existe alguma coisa que não se encontra de nenhuma forma no simples conceito de uma coisa em geral, e é essa coisa que nos fornece o substrato, que não pode ser reconhecido mediante simples conceitos (…) ( KANT, 2009, p. 201).

                 Seguindo essa tendência, mas com as devidas distinções, Schopenhauer no seu “O Mundo como Vontade e Representação” relata a incapacidade das idéias de atingirem o verdadeiro. Isto é, a percepção da verdade é indecifrável.

                 O conhecimento em geral, tanto o racional como o meramente intuitivo […] foi destinado originalmente ao serviço da vontade, para a realização de seus próprios objetivos e, de tal modo, permanece-lhe submetido de maneira quase absoluta em todas as circunstâncias.” (SAFRANSKI, 2011, p. 413)

                 Em consonância com esses estudos, a filosofia budista, taoísta, zen e outra orientais endossam a escassez das idéias para demonstrar o que realmente existe. Segundo Tsé (2001,p.37): “Quanto mais falamos no Universo, menos o compreendemos. O melhor é auscultá-lo em silêncio.”

                 Afinal, se as idéias são incompletas diante do todo, não exprimindo sua veracidade para que tê-las?

                Ora, estamos frente a um questionamento que naturalmente já foi tema de investigações filosóficas durante anos. Vale destacar, no entanto, que no século XIX, Karl Marx apresenta a sua tese de que o mais significativo das idéias é a sua possibilidade de transformar a realidade. Ou seja, o debate sobre as idéias na sociedade não deve passar por conjecturas existenciais, de como atingir o essencial, o verdadeiro. A verdade, na obra de Marx não é única e imutável. Portanto, depende da posição que os indivíduos ocupam diante dos meios de produção das riquezas. Segundo Marx (2009, p. 50): “As formas econômicas sob as quais os homens produzem, consomem, trocam, são transitórias e históricas.” Ou seja, passíveis de transformação. Assim, o proprietário desse meios diverge da verdade daqueles que só representam a sua força de trabalho. Isso, fica evidente quando idéias que só favorecem a tais proprietários são difundidas. É o caso, da máxima: “Deus ajuda quem cedo madruga”, enquanto que os mais ricos são aqueles que mais acordam tarde.

                 Nesse sentido, as idéias apontadas em Marx distanciam-se das filosofias essencialistas para se engajarem em transformações da realidade (reflexo do mundo do trabalho) que favoreçam a maioria da sociedade. Portanto, descobrindo o potencial das idéias para que não sejam apenas óculos para a humanidade, mas também sejam braços que podem tomar o mundo de Atlas para distribuí-lo com mais justiça..

 

REFERÊNCIAS.

 

– KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Martin Claret, 2009, São Paulo,540 p;

– MARX, Karl. Miséria da Filosofia. Martin Claret, 2008. São Paulo, 203 p;

– SAFRANSKI, Rüdiger. Schopenhauer. E os anos mais selvagens da filosofia. Geração Editorial, 2011. São Paulo, 683 p;

-TSÉ, Lao. Tao Te Ching. O Livro que Revela Deus. Martin Claret, 2007. São Paulo, 196 p.